O tempo hoje é de extremismos. Os últimos dias têm sido marcados, na política mundial, pelas eleições Brasileiras – e por uma previsível vitória de Bolsonaro – e pela eleição de Kavanaugh para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos, indicado por Donald Trump, de quem já conhecemos bem a visão sobre justiça.
Não só pelo mundo as más notícias, no que toca a extremismos, se vão multiplicando, como também em Portugal faz capa esta semana a intenção de um “Trump à Portuguesa” sair do PSD para criar um partido que no seu programa contenha pérolas como o fim do casamento entre homossexuais, a castração química para pedófilos ou o regresso da pena de morte.
Infelizmente este tipo de respostas têm encontrado reconhecimento e validação junto do eleitorado. Desacreditados da política e dos seus intérpretes, criados por sistemas educativos que nos tornam acríticos e empoderados por ferramentas tecnológicas que nos tornam juízes em frente ao computador, com base em informação que lemos em títulos apetitosos, sem o mínimo esforço de compreender a verdade.
No meio deste cenário apocalíptico, torna-se difícil fazer análises sérias a casos trazidos a lume como o da recente suposta violação de uma professora americana, por um jogador de futebol profissional.
De tudo o que tenho lido, há uma divisão assustadora entre os que querem, nos seus extremos, a prisão perpétua de Cristiano Ronaldo e os que insultam Katryn Mayorga em juízos sumários de carácter.
Não há “bons rapazes” nesta história. Não no ato em si, porque esse diz respeito à justiça e é lá que devem correr. Mas nas diferentes análises feitas ao suposto facto.
Se é verdade que os julgamentos de carácter de Mayorga são inaceitáveis e baseados numa estrutura de sociedade machista que acha que uma mulher que sobe para um quarto de hotel “já devia saber com o que contar”, o mesmo julgamento feito a um presumível inocente – até prova da justiça em contrário – contraria todos os princípios de um estado de direito que defendo.
Não é aceitável que os mesmos que querem a crucificação de Ronaldo, amanhã sejam defensores de um sistema judicial justo e de um sistema prisional reabilitante. E são estes extremistas que fazem com que lutas justas e urgentes como a do movimento #MeToo possam acabar por dar palco aos Andrés Venturas que defendem a castração química de abusadores.
Se a justiça funcionar, haverá um de dois desfechos: Ronaldo não é culpado e segue a sua vida – com eventual reclamação dos prejuízos para a sua reputação -, ou Ronaldo é culpado e entregue a um sistema que o recupere de comportamentos desviantes.
À justiça o que é da justiça. E à opinião pública a informação necessária para que não se multipliquem disparates escritos e ditos sobre o caso.