Um jovem curdo de 24 anos, originário de Alepo, descreve a sua vida antes da guerra como a vida perfeita. Conta que, com os conflitos, deixou de haver comida e começou a morrer muita gente à fome e nas explosões. Recorda-se de se ter alimentado apenas de esparguete durante vários dias. Após concluir o 12º ano, fugiu para Kobani para escapar ao exército, e lá permaneceu com a família. Mais tarde, separou-se deles e mudou-se para a Turquia à procura de emprego, tendo vivido 7 anos em Istambul a trabalhar como alfaiate. Quando o Estado Islâmico atacou Kobani, a família seguiu-o para a Turquia.
Uma vez que o dinheiro não era suficiente, decidiram abandonar o território turco. Partiram num barco de borracha até Lesvos, numa viagem de 4h30. Foram levados para o campo de refugiados de Moria, local que descreve como “o inferno”: “Era muito sujo e perigoso. Não havia segurança”. Recorda o dia em que foi atacado por árabes com ferros, tendo contraído ferimentos na cabeça, bem como um braço e uma perna partidos. Foi levado para o hospital, onde só permaneceu três horas. “Fizeram-me uns curativos e mandaram-me embora, sem analgésicos”. Foi interrogado na esquadra da polícia e levado novamente para Moria. Temendo pela vida, fugiu com o pai e ficaram num hotel em Mytilini para recuperar dos ferimentos.
Dois dias depois, foram para o campo de refugiados de Larsos, local que recebeu vários curdos, com o escalar do conflito em Moria. Em Larsos, viveu numa tenda gigante com 200 pessoas, durante dois meses e meio. Agora em Kara Tepe, tem uma vida boa, sem violência. Quanto ao futuro, aguarda transferência para Atenas, sem pensar no que irá acontecer depois. E aproveita para enviar uma mensagem para Portugal: “Digam olá por mim ao Casillas”.
